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"BALEIA AZUL" FAZ VÍTIMAS EM JAÚ E BAURU
17/04/2017 - 09:06
Para cumprir mais uma etapa de um jogo que incentiva o suicídio chamado desafio da "Baleia Azul" (ou "Blue Whale"), um adolescente de 16 anos, morador do Mary Dota, em Bauru, usou uma lâmina de apontador para cortar várias partes de seu rosto, na última sexta-feira à noite, logo após ter ameaçado o próprio pai com uma faca.
A briga foi o elo para a descoberta dos pais. O garoto contou à reportagem que estava na décima quarta "fase" do game, de um total de 50. Ele já havia, inclusive, se automutilado outras vezes e pretendia seguir até o último desafio, ou seja, dar fim à própria vida. "Eu estava disposto a me matar. É difícil lutar pela vida. O jogo é uma escolha mais fácil", disse.
Este, entretanto, não é um caso isolado na região. No sábado, um adolescente de 13 anos também tentou suicídio em Jaú aparentemente influenciado pelo "Baleia Azul". Ele precisou ser internado no hospital psiquiátrico Thereza Perlatti. Agora, a família luta para tirá-lo da depressão.
Este, aliás, é um dos indícios mais visados pelos administradores do jogo, chamados de "curadores". Eles agem em grupos fechados nas redes sociais e aplicativos (Facebook e WhatsApp), sempre durante a madrugada. São lançadas 50 missões de graus variáveis de dificuldade aos jogadores, como automutilações. A última tarefa seria o suicídio.
"No Brasil, tem grupo com mais de 180 jovens, a maioria meninas", conta o adolescente de Bauru. Entre os desafios cumpridos, ele usou a lâmina para cravar a imagem de uma baleia e escrever a frase I'm a whale (Eu sou uma baleia, na tradução) nos braços, fez 13 cortes profundos nas coxas e riscou a letra X em cada lado do rosto - isso na última sexta-feira.
As automutilações eram feitas no quarto do menino, uma vez que não havia monitoramento dos pais. "Cortar é fácil", diz ele, que ficou sabendo do jogo enquanto navegava na Internet e decidiu "aprofundar-se nos desafios". O estilo de se vestir ajuda a esconder os ferimentos: calça, tênis e camiseta.
Desentendimentos familiares. Esta é a justificativa do adolescente para suas ações. "Não estou feliz com a minha vida. A separação dos meus pais, brigas de família. Essas coisas me deixam nervoso. A psicóloga falou que eu posso estar com depressão. Até estou disposto a fazer o tratamento, mas não sei se vai ser possível mudar", pontua.
A existência do jogo já era de conhecimento da mãe do garoto (a identidade foi preservada para evitar constrangimentos à família, segundo orientação do Estatuto da Criança e do Adolescente). "Eu vi uma reportagem na semana passada, mas ninguém imagina que vai acontecer com a gente. Nunca pensei que meu filho pudesse estar num grupo suicida", conta a mulher.
ROSTO SANGRANDO
Segundo ela, o menino sempre foi muito quieto, mas, de uns dias para cá, passou a ficar mais agressivo. A briga de sexta começou porque o pai teria se negado a consertar o celular do filho. "Ele puxou uma faca e ameaçou o pai. Quando cheguei lá (na casa do ex-marido), ele estava com o rosto inteiro sangrando. Foi aí que descobri que ele se cortou por causa do jogo".
Além de ajuda médica, a mãe buscará mudar a rotina. "Vou tentar trazê-lo para a minha casa (ele mora com o pai), trocá-lo de escola e manter mais diálogo com meu filho. Inicialmente, o fiz sair do jogo e pedi para que ele reflita bastante sobre o que fez", finaliza.
'DIZIA ADEUS PARA OS AMIGOS'
O adolescente de 13 anos que tentou se matar em Jaú já apresentava comportamento suicida antes de ser internado no PS Infantil com ferimentos no braço, na semana passada, alega a irmã dele. A vendedora disse que o garoto excluiu toda a família das redes sociais.
"Depois, a gente descobriu que ele postava mensagens depressivas ou depreciando a própria vida. Dizia adeus para os amigos". Sempre muito quieto, ele começou a aparecer em casa com cortes pelo corpo, mas jamais dizia como havia se machucado.
"Na terça, olhamos o notebook dele e descobrimos sobre o jogo, na hora do almoço. Pelas conversas, ele tinha até 19h para aceitar os desafios. Descobrimos a tempo e cortamos a Internet de casa".
Ela conversou muito sobre o fato com o irmão. "Mas ele não demonstrava arrependimento. Parecia perdido. Dois dias depois, minha irmã mais velha encontrou uma faca na mochila dele. Ele iria se matar naquela tarde. Foi então que registramos o caso e o internamos. Agora, vamos cobri-lo de muito amor", finaliza.
Mortes
No Brasil já há mortes registradas que teriam relação com o jogo "Baleia Azul". No Mato Grosso, uma jovem de 16 anos foi encontrada em uma represa. O corpo apresentava cortes nas coxas e nos braços.
Ainda nesta semana, em Pará de Minas, um jovem de 19 anos foi encontrado morto por sua esposa e o caso foi atribuído ao game. Isso porque familiares teriam relatado à polícia que ele era participante do desafio e vinha tentando deixar o grupo secreto.
"Curadores" procuram pessoas com emocional vulnerável, diz psicóloga
Os "curadores" da "Baleia Azul" fazem uma espécie de busca na Internet por pessoas que costumam "dar dicas" de vulnerabilidade emocional em publicações nas redes sociais, observa a psicóloga Sílvia Helena Diegoli Machado.
Há algum tempo, ela vem estudando o jogo. "Os administradores têm perfil psicopata. Gostam de ver a dor do outro", ressalta Machado. Ela exemplifica: é como se os assassinos "tradicionais" estivessem se inovando, ou seja, usufruindo da tecnologia para fazer vítimas.
Por isso, ela faz o alerta: é preciso ficar atento de como os filhos fazem uso das redes sociais e, principalmente, observar mudanças de comportamento. "Se há mutilação no corpo, se estão depressivos, se o rendimento escolar caiu ou se trocam o dia pela noite. Identificando esses indícios, deve-se procurar ajuda psicológica imediatamente e manter sempre o diálogo".
As vítimas do crime digital ou seus pais podem realizar a quebra de sigilo informático judicialmente, com apoio no Marco Civil da Internet, para identificar os cibercriminosos. Se localizados, podem responder até por lesão corporal grave.
JCNET.
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