28/05/2014 - 09:58
Bomba no avião? O alerta é comum em filmes de ação, mas parecia estar próximo de se tornar ameaça real em Bauru.
Um bilhete encontrado no banheiro masculino do Aeroporto Moussa Tobias, por volta das 10h de ontem ,avisava para um artefato explosivo no interior de uma aeronave da companhia aérea Azul, que realizava a linha Campinas/Marília, com escala em Bauru.
No bilhete, uma folha branca impressa por computador, havia a frase “Tem uma bomba no avião da Azul”, acompanhada por um dizer no rodapé (#nãovaitercopa) em menção aos protestos contra o campeonato mundial de junho no Brasil.
O avião, contudo, já havia decolado do aeroporto e seguia rumo ao seu destino final quando, após 10 minutos de voo, o piloto foi orientado a retornar a Bauru, por segurança.
No momento, cerca de 50 passageiros estavam à bordo da aeronave– o número exato não foi informado pela companhia aérea.
Ao retornarem, eles foram retirados e levados até uma sala de desembarque, onde aguardaram pela chegada da polícia.
Logo em seguida, o avião foi isolado e policiais militares do 4º Batalhão de Polícia Militar do Interior (4º BPM-I), juntamente com equipes do Canil da Força Tática da PM e agentes da Polícia Federal deram início a uma intensa busca pelo possível artefato. Nesse episódio, todo cuidado era pouco e as atenções, redobradas.
A mobilização reuniu dezenas de policiais por cerca de três horas no local. Felizmente, nenhum artefato foi realmente localizado pelas autoridades de fiscalização em pista e imediações.
4 horas
O avião, que estava desde às 10h30 interditado no aeroporto de Bauru, foi liberado somente 4 horas depois e, retornou direto para Campinas, levando apenas os funcionários da empresa aérea.
Parte dos tripulantes com destino à Marília viajou de ônibus e o restante foi realocado em outra aeronave da mesma empresa.
A Polícia Militar foi a primeira a chegar no aeroporto.
No local, a equipe garantiu o isolamento da aeronave e, depois, realizou a varredura física em seu interior, com a ajuda do cão farejador Falcão.
“Não havia nenhum compartimento violado ou em desacordo com as normas técnicas da empresa”, disse o comandante do 4º BPM-I, tenente-coronel, Walter de Oliveira.
Em seguida, a bagagem dos passageiros foi retirada do avião e passou por Raio - X, antes de ser restituída aos proprietários. “Até que fizéssemos a vistoria, os passageiros ficaram isolados na sala de desembarque.
Isso aconteceu para que houvesse a segurança deles, até que fossem tomadas as deliberações”, explica o delegado da Polícia Federal (PF), Ênio Bianospino, que também acompanhou os trabalhos.
A decisão para que a aeronave retornasse a Bauru foi tomada de forma conjunta pela PF e a administração do aeroporto, conforme prevê o Plano Nacional de Segurança na Aviação Civil (Avsec).
No vaso
O bilhete estava jogado sob um vaso sanitário, no banheiro masculino do aeroporto. O papel foi encontrado por um dos funcionários do local.
Na frase de “aviso”, a palavra bomba, era simbolizada pelo desenho do artefato.
Responsável pelas ações no local, Bianospino, disse ainda que a polícia foi avisada do bilhete por administradores do aeroporto.
Não havia, até ontem, o registro de bilhetes desse tipo com menção à Copa no Brasil.
Daesp, etc
O Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo (Daesp) disse ao JC que a mobilização no aeroporto, assim como a interdição de parte do pátio de manobras, para a verificação do avião em questão, não atrasou ou gerou cancelamento de outros voos que chegaram e partiram de Bauru, ontem.
Sobre a ameaça real registrada na unidade de Bauru em relação aos protestos contra a Copa, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), responsável pela segurança dos aeroportos em todo o País, informou apenas que a as ações relacionadas ao incremento do efetivo para o período é coordenada pela própria Polícia Federal juntamente com a Secretaria de Aviação Civil. Já a Azul Linhas Aéreas Brasileiras informou, por meio de nota à imprensa, que prestou toda a assistência necessária aos clientes, que foram reembarcados para seus destinos.
O faro de Falcão
O cão Falcão, um labrador de 6 anos, foi um dos personagens que protagonizou as buscas por explosivos no avião e nas bagagens do voo da aeronave Azul com destino à Marília. Treinado desde os 4 meses de idade, Falcão já foi premiado como o 3º melhor cão farejador da PM no país. Além de artefatos explosivos, ele também é preparado para encontrar entorpecentes.
Miami
Em janeiro deste ano, um estudante brasileiro, de 22 anos, morador de Sorocaba, foi preso em Miami, nos Estados Unidos, por suspeita de enviar um e-mail à polícia e à TAM Linhas Aéreas com ameaças de bomba em um avião. O avião partiria de Miami com destino à Brasília. Nas últimas semanas, o jovem foi condenado e deverá cumprir cinco anos de prisão no país.
Polícia Federal já instaura inquérito
O documento com a frase ameaçadora que gerou toda a mobilização no aeroporto Moussa Tobias, ontem, foi apreendido pela Polícia Federal de Bauru e, após ser periciado, será anexado ao inquérito que foi instaurado para apurar o caso.
Segundo explica o delegado Almir Papassoni, a tipificação para tal crime, atentado contra a segurança do transporte aéreo é prevista no artigo 261 do Código Penal. Se identificados e condenados, os responsáveis podem pegar de 2 a 5 anos de prisão pelo crime.
Além do bilhete, as imagens do circuito de segurança interno do aeroporto, principalmente do saguão que leva ao banheiro, já estão sendo analisadas. “Temos indicativos que nos levam a quem possa ter cometido. O próprio bilhete nos traz pistas”, comenta o delegado.
O JC teve acesso ao conteúdo do bilhete, mas imagens não foram permitidas pela polícia.
“Além do tempo que desperdiçamos com isso, essa pessoa ou esse grupo prejudicou os passageiros, que em nada tem a ver com a Copa”, critica o delegado Papassoni.
“Quero deixar claro que isso não se trata de uma simples brincadeira acrescenta o delegado Bianospino, também da Polícia Federal. O funcionário que encontrou o bilhete foi intimado a depor.
Passageiros do voo relatam tensão
José de Souza Junior, advogado, 39 anos, de Marília, era um dos passageiros da aeronave. Por telefone, ainda dentro da sala de desembarque, ele contou para reportagem que o piloto do avião, após 10 minutos de voo, informou que, por questões de segurança, o avião precisava retornar para Bauru.
“Descemos e a brigada de incêndio já estava no local. Questionamos para saber se era algum problema técnico, mas disseram para que saíssemos imediatamente da aeronave”, disse.
O advogado conta que sentiu medo quando soube da bomba. “ Os passageiros não foram avisados de imediato sobre a bomba para não causar pânico. Fiquei assustado. Como está chegando a Copa do Mundo...”
Ainda de acordo com Junior, os passageiros souberam da denúncia somente dentro da sala de desembarque, quando perguntaram à polícia. “Nos disseram que seria feita a vistoria na aeronave e teriam que aguardar a liberação porque, se houvesse algum problema, todos os passageiros seriam entrevistados sobre o que levava na bagagem”.
Outra passageira, a zootecnista Aline Ferreira, 27 anos, se preocupava com horário. “Moro em Bauru e estava indo para Belo Horizonte a trabalho. Uma senhora ficou apavorada”.
Desfecho
Inicialmente, a PF havia acionado um grupo antibombas da Capital para atender ao chamado ontem no aeroporto. Mas os próprios PMs de Bauru realizaram a ação, já que possuem treinamento específico para a localização de explosivos.
Via. JCnet
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