GEDDEL É PRESO APÓS APREENSÃO DE R$ 51 MILHÕES

08/09/2017 - 10:29

Detido em prisão domiciliar desde julho, o ex-ministro Geddel Vieira Lima, do PMDB, foi preso preventivamente (sem prazo determinado), em regime fechado, na manhã de hoje (8), em Salvador, três dias após a Polícia Federal apreender R$ 51 milhões em um imóvel supostamente utilizado pelo peemedebista.

Além de Geddel, a PF cumpre mandado de prisão preventiva contra o diretor-geral da Defesa Civil de Salvador, Gustavo Ferraz, que, segundo as investigações, é ligado ao ex-ministro.

A prisão foi determinada pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, em uma nova fase da Operação Cui Bono, que investiga fraudes na Caixa Econômica Federal. Amigo pessoal do presidente Michel Temer, Geddel ocupou a Vice-Presidência de Pessoa Jurídica do banco público no governo Dilma Rousseff, indicado pelo PMDB.
 
O pedido de prisão cumprido nesta sexta-feira foi apresentado pela PF e, posteriormente, acabou endossado pelo Ministério Público Federal (MPF), com base na apreensão de R$ 51 milhões, na última terça-feira (5), em um apartamento que havia sido emprestado a Geddel por Silvio Pereira, um amigo do ex-ministro.
 
Na decisão que autorizou a nova fase da Operação Cui Bono, o juiz de Brasília informou que a Polícia Federal identificou impressões digitais de Geddel e de Gustavo Ferraz em cédulas de dinheiro encontradas no apartamento do amigo do peemedebista, que fica localizado a cerca de 1 quilômetro da residência do ex-ministro.
 
Vallisney de Souza Oliveira relatou em seu despacho que, segundo a PF, há "fortes indícios" de que os R$ 51 milhões apreendidos na última terça pertencem realmente a Geddel, uma vez que, no local, foi encontrada uma fatura em nome de Marinalva Teixeira de Jesus, funcionária do deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), irmão do ex-ministro.
 
O argumento dos investigadores para solicitar que o ex-ministro retorne para a cadeia é o eventual risco de "destruição de elementos de provas imprescindíveis à elucidação dos fatos". Além disso, a PF identificou risco de fuga depois da divulgação da apreensão do dinheiro.
 
A assessoria do MPF informou ainda que a nova fase da Cui Bono busca apreender provas de crimes como corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
 
"No momento, são fortes os indícios do delito de lavagem de capitais, tudo apontando ao fato de que o requerido [Geddel] não cumpriu a decisão (de prisão domiciliar) na sua integralidade (em paralelo e desde antes de sua prisão), e de que esteja reiterando na conduta criminosa, sendo a hipótese de decretação de sua prisão preventiva, a fim de que seja sustada a continuidade delitiva", escreveu o juiz de Brasília no mandado de prisão.
 
Antes de assumir a chefia da Defesa Civil da capital baiana em janeiro deste ano, Ferraz atuava como diretor de Habitação da antiga Secretaria Municipal de Infraestrutura e Defesa Civil, agora chamada de Secretaria Municipal de Infraestrutura e Obras Públicas. Ele ficou no cargo entre os anos de 2015 e 2016.
 
Ferraz também foi superintendente da Indústria e Comércio da prefeitura de Lauro de Freitas entre 2013 e 2014, superintendente de Desenvolvimento Industrial e Comercial da Bahia, em 2009, e superintendente da Agência do Desenvolvimento Econômico de Salvador (2007-2008).
 
Investigadores dizem que Ferraz já foi indicado por Geddel para buscar, em 2012, valores ilícitos remetidos por Altair Alves, emissário de Eduardo Cunha.
 
Busca e apreensão
 
O juiz federal de Brasília também expediu outros três mandados de busca e apreensão, todos na capital baiana. A Justiça autorizou as buscas alegando que a PF suspeita que ainda exista mais dinheiro de origem ilícita escondido pelo ex-ministro.
Os mandados de busca foram cumpridos no apartamento de Geddel e também nas residências de Gustavo Ferraz e da mãe do ex-ministro.
 
Os investigadores acreditam que há "grande probabilidade" de que no apartamento da mãe de Geddel possa existir alguma prova documental relacionada com a apreensão dos R$ 51 milhões.
 
Prisão em Salvador
 
Sete agentes e dois carros da PF entraram no condomínio em que Geddel mora com a família, em Salvador, às 6h desta sexta-feira. Segundo a TV Bahia (afiliada da Rede Globo), um vendedor ambulante, que estava na região, foi levado para dentro do condomínio, possivelmente para servir de testemunha.
 
Geddel deixou o prédio pouco depois das 7h, no banco de trás de uma viatura da PF. Cerca de meia hora depois, o comboio policial chegou ao aeroporto Luiz Eduardo Magalhães. O ex-ministro será conduzido para Brasília (veja no vídeo acima o momento em que Geddel deixa o prédio).
 
Ex-articulador político do presidente Michel Temer, Geddel já tinha sido preso preventivamente pela Polícia Federal, em julho, acusado de agir para atrapalhar investigações da Operação Cui Bono.
 
As investigações da Cui Bono apontam que o peemedebista, valendo-se de seu cargo na Caixa, "agia internamente, de forma orquestrada", para beneficiar empresas com liberações de créditos dentro de sua diretoria e fornecia informações privilegiadas para os outros integrantes "da quadrilha que integrava", entre eles o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
 
O MPF alega que Geddel atuou para evitar possíveis delações premiadas do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e do doleiro Lúcio Funaro, ambos presos pela Operação Lava Jato e também investigados na Cui Bono.
 
Nove dias depois de ser preso pela primeira vez, o desembargador Ney Bello, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), autorizou o ex-ministro a cumprir prisão domiciliar. Embora a decisão judicial determinasse que Geddel fosse monitorado por tornozeleira eletrônica, isso não vinha acontecendo, pois o governo da Bahia não tem o equipamento.
 
O ex-ministro virou réu em agosto na Justiça Federal em Brasília acusado de obstrução de Justiça. Ele é acusado de tentar atrapalhar as investigações da Cui Bono.
 
Em nota divulgada após a decisão da Justiça, a defesa de Geddel rechaçou as acusações, a aque chamou de "fruto de verdadeiro devaneio e excesso acusatório".
 
Fortuna em malas e caixas
 
Na terça-feira (5), a PF apreendeu R$ 51 milhões em um apartamento que seria utilizado por Geddel em Salvador. O dono do imóvel afirmou à PF que havia emprestado o imóvel ao ex-ministro para que ele guardasse pertences do pai, que morreu no ano passado.
 
Além de o próprio dono do apartamento ter dito que emprestou o imóvel a Geddel para que o ex-ministro, supostamente, guardasse pertences do pai, que morreu no ano passado, a administradora do condomínio, Patrícia dos Santos, confirmou que o apartamento tinha sido cedido ao peemedebista.
 
Ex-ministro de Lula e Temer
 
Geddel Vieira Lima deixou o cargo de ministro da Secretaria de Governo em novembro de 2016. Na ocasião, ele havia sido acusado pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero de tê-lo pressionado para liberar uma obra na Ladeira da Barra, área nobre de Salvador.
 
O peemedebista era o responsável pela articulação política do governo Temer com deputados e senadores. Ele ficou no primeiro escalão de Temer por apenas seis meses.
 
Depois de ter sido um crítico ferrenho de Lula no primeiro mandato do ex-presidente, Geddel baixou as armas quando o petista foi reeleito e assumiu o comando do Ministério da Integração Nacional entre 2007 e 2010. Na pasta, encampou a transposição do Rio São Francisco.
 
Entre 2011 e 2013, ele se tornou vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa na cota de cargos de Michel Temer. Ele se desligou do banco público pedindo exoneração pelo Twitter à então presidente Dilma Rousseff.
 
Formado em administração de empresas pela Universidade de Brasília, é natural de Salvador, onde foi assessor da Casa Civil da prefeitura da capital baiana entre 1988 e 1989. Em 1990, filiou-se ao PMDB, partido pelo qual foi eleito cinco vezes deputado federal.
 
G1 BAHIA.

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