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MÃES SE UNEM E CRIAM PIQUENIQUE COMUNITÁRIO PARA PROMOVER INTERAÇÃO ENTRE CRIANÇAS COM SÍNDROME DE DOWN: 'AMOR INEXPLICÁVEL'
21/03/2025 - 14:46
Um grupo de mães em Jaú organizou um piquenique comunitário para promover acolhimento e inclusão a crianças com Síndrome de Down. O evento acontece neste sábado. (22), um dia após o Dia Mundial da Síndrome de Down, e inclui atividades adaptadas, brincadeiras ao ar livre e oficinas de interação, destacando a importância da socialização no desenvolvimento infantil.
Mirian Garcia Borgo, umas das mães e organizadoras do evento, relatou com emoção a luta que enfrentou desde o diagnóstico da filha, Helena. Ao vivenciar uma espécie de luto com a notícia, ela relembra um momento crucial em que Deus a "chacoalhou", fazendo-a refletir sobre a aceitação de sua filha e a decisão de lutar por ela.
"Eu guardei no bolso o luto e comecei a lutar pela minha filha. Corri atrás. A nossa rotina, desde quando ela nasceu, é uma rotina diária, sem interrupção, fora a parte da cirurgia e da pandemia, que às vezes fazia, vinham profissionais em casa para fazer terapia com ela ou era online."
Miram lembra que um dos momentos mais angustiantes foi quando Helena precisou passar por uma cirurgia cardíaca com poucos meses de vida. A operação foi um marco nas vidas da mãe e da filha, e Mirian considerou como um milagre a bebê ter se recuperado de maneira tão rápida: "A Helena foi a paciente com a recuperação mais rápida que a médica já teve, e eu sei que é um milagre de Deus".
Durante a pandemia de Covid-19, Helena já estava em recuperação e, apesar das dificuldades de acompanhamento médico devido ao isolamento social, Mirian manteve as terapias e o acompanhamento necessário para garantir o bem-estar de sua filha.
A mãe destaca que Helena é uma criança doce e inteligente, com uma personalidade forte e um lema muito claro: "Ela não é um 'anjinho', mas, sim, uma pessoa que merece respeito". A mãe completa que Helena "se destaca pela forma como se posiciona e por sua maneira única de encarar a vida".
Érica Santilli do Nascimento Vannuzini, mãe de Mathias, tem 43 anos e é advogada. Sua jornada como mãe de um filho com síndrome de Down começou com um susto. Como durante a gestação não foi identificado que Mathias teria a trissomia do cromossomo 21, a notícia só foi dada após o nascimento.
Sem conhecimento prévio sobre a síndrome, Érica e o marido se sentiram perdidos. Mas, com muito carinho e dedicação, Érica percebeu que, apesar das dificuldades iniciais, Mathias poderia se desenvolver como qualquer outra criança, apenas com um ritmo um pouco mais lento.
"Eu queria só proteger o Mathias do mundo. Mas isso durou uns 15 dias. Depois, nós partimos para as terapias e, com um mês, ele já estava fazendo terapias, e, à medida que ele foi respondendo a tudo isso, o meu coração foi se tranquilizando. Ele teria um desenvolvimento um pouquinho mais lento em algumas situações, mas ele ia se desenvolver com muita estimulação, amor e carinho."
Toda essa rotina faz a diferença na vida do Mathias, que, além das terapias, pratica esportes e atividades religiosas. A advogada destaca que ser mãe dele é uma experiência transformadora
e repleta de desafios, mas também de muito aprendizado.
"Não trocaria o Mathias por nada, não escolheria ele diferente, não escolheria ele sem a síndrome de Down. É um amor inexplicável. Acho que mais ele me ensina do que eu ensino ele, a verdade é essa. E ele completa nossa família, ele é filho único, mas faltava ele para completar a nossa família e não podia ser diferente, eu escolheria ele mil vezes desse jeito", diz Érica.
A psicóloga Carolina de Miranda Prado, de 39 anos, já era mãe do Gabriel, hoje com quatro anos, quando engravidou de Bruno, que nasceu com síndrome de Down. O bebê também tinha uma cardiopatia, problema recorrente em pessoas com diagnóstico da síndrome. Por causa das complicações de saúde, Bruno morreu aos cinco meses de vida.
Carolina e sua família enfrentaram muitas dificuldades durante o tempo em que Bruno esteve com eles, mas a experiência com o pequeno foi transformadora e, desde sua partida, ela tem se dedicado a escrever sobre ele e a participar de projetos que mantêm viva sua memória e a luta pela inclusão das crianças com síndrome de Down.
Apesar de Bruno ter vivido pouco tempo, sua passagem deixou uma marca profunda na vida de Carolina e sua família. Para ela, a maior lição foi sobre o amor incondicional, algo que ela nunca havia entendido plenamente até o nascimento do filho.
"Eu sempre ouvi dizer que as crianças, a pessoa com síndrome de Down, transmitia muito amor, e eu não conseguia entender isso até que o Bruno nasceu. E, a partir desse momento, isso ficou muito claro para mim, porque é como se eles olhassem com um olhar amoroso, com um olhar que fala, que se comunica apenas com os olhos."
Carol é grata pela breve convivência com Bruno e espera que o legado dele continue vivo: "É uma missão para a gente continuar defendendo essa causa, as pessoas que têm os seus direitos garantidos e, para incluí-los, para garantir que eles tenham os mesmos direitos da pessoa típica, que eles possam receber os necessários para se desenvolver."
Acompanhamento com especialista
As crianças fazem acompanhamento com a psicopedagoga Bruna Rossini Grillo, que é especialista no atendimento de pessoas com a síndrome. Bruna explica que, para as crianças com Down, a interação social em eventos como o piquenique é de extrema importância, já que oferece a oportunidade de se conectar com outras crianças, e aprender sobre empatia, respeito e convivência.
"Essa interação social vai além de uma simples convivência. Ela oferece uma oportunidade única para as crianças se sentirem compreendidas e parte de um grupo, além de se desenvolverem em um ambiente inclusivo, onde podem aprender com os outros e também compartilhar suas próprias experiências. Quando as crianças têm a oportunidade de interagir com outras que compartilham experiências semelhantes, elas aprendem a conviver de forma mais empática e natural."
Além disso, o piquenique oferece um espaço onde a diversidade é celebrada, reforçando a ideia de que ser diferente não é um problema, mas algo enriquecedor para todos os envolvidos. A psicopedagoga também destacou que a principal barreira para a inclusão de crianças com síndrome de Down é a falta de informação, que frequentemente resulta em preconceito e discriminação.
"A sociedade ainda carece de um conhecimento mais profundo sobre as necessidades e potencialidades das crianças com síndrome de Down. A mensagem central que precisamos reforçar é que todas as crianças precisam de oportunidades reais para se desenvolver", finaliza Bruna.
O piquenique comunitário de Jaú não é apenas uma celebração ao Dia Mundial da Síndrome de Down, mas também um espaço de luta e resistência. O evento será neste sábado, a partir das 10h.
A programação contará com diversas atrações e um público cada vez mais engajado. Neste ano de 2025, o evento terá a participação especial da tradicional banda Carlos Gomes, da cidade de Jaú, que se apresentará no Parque do Rio Jaú, com o tema "Suporte para quem precisa, todos, juntos, apoiando a inclusão. Seja rede de apoio!".
O piquenique, que é aberto ao público em geral, trará ainda muitas atrações para o entretenimento das crianças, como brinquedos infláveis, carrinhos de pipoca, algodão doce, sorvete, bolo, salgadinhos e uma variedade de bebidas.
Os participantes poderão aproveitar o dia com atividades como torta na cara, pintura no rosto e a presença de personagens como Mickey, Minnie, Moana e Homem-Aranha.
Por Enzo Mingroni, g1 Bauru e Marília - Reprodução
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