Intensa e ousada são as palavras que melhor descrevem a escritora Hilda Hilst. Um texto denso e uma vida vivida ao máximo. Ela é a grande homenageada da edição deste ano da Flip, a maior feira literária do país que terminou neste domingo (29) em Paraty (RJ).
Aqui em Jaú, cidade natal da escritora, um espaço dedicado a ela está sendo montado no Museu Municipal. Autora de mais de 40 livros de prosa e poesia, Hilda nasceu na cidade do interior de São Paulo no dia 21 de abril de 1930, estudou em São Paulo e depois foi morar em Campinas, na Chácara do Sol, onde fica o Instituto Hilda Hilst.
Mas as visitas a Jaú eram constantes. O maior motivo era o pai de Hilda. Apolônio de Almeida Prado Hilst era agricultor, escritor e sofria de esquizofrenia. Por isso, a autora nunca teve filhos, tinha medo que desenvolvessem a doença. Mas a figura paterna foi uma de suas principais influências.
O sagrado e o profano, a morte, Deus e o amor sempre foram muito presentes na obra literária de Hilda, com forte tom de crítica social.
"Era uma transgressora em tudo, a gente observa na obra dela que ela misturava vários gêneros da literatura, uma prosa poética, crônicas com elementos da dramaturgia, tudo se entrelaçava de maneira brilhante. Ela trata de Deus, da vida, da finitude, questões familiares, mas em profundidade, queria tirar os leitores da zona de conforto”, ressalta o jornalista e editor literário, José Renato de Almeida Prado.
Foi essa intensidade que chamou a atenção de Tamires Baptista Frasson. A jornalista conheceu a obra da escritora aos 11 anos e o fascínio foi imediato. A admiração era tanta que virou livro, "Os amores de Hilda Hilst".
"A obra ‘Estar sendo, ter sido', é um testamento da Hilda, último livro que ela escreveu, um texto que me fez pensar muito na vida, isso me fez pesquisar sobre ela, quem é Hilda Hilst? Eu quis entender as influências dos amores com a obra, tinha muita influência, e isso me chamou atenção.”
Com uma beleza única, Hilda conquistou vários amores. "Tinha muitos namorados, um dos mais famosos era Vinicius de Morais, tinha artistas internacionais e uma história interessante era com Carlos Drummond de Andrade, mas ele já era casado. Ela dizia que eles nunca tiveram nada, mas ela dedicou um livro pra ele, toda vez que ela se apaixonava por alguém escrevia um livro", conta a parente da escritora, Maria Lúcia Hilst.
Inteligente, culta e de uma família tradicional, para ela, o poder estava no conhecimento, e não no dinheiro. “Ela lia em torno de umas 12 horas por dia e escrevia pelo menos 500 palavras por dia. Ela lia de tudo, até sobre matemática, física, química, literatura, prosa, poesia. Lia de tudo”, completa a prima.
Hilda morreu em 2004, aos 73 anos, com uma obra extensa a ser explorada pelos leitores e diversos prêmios de literatura no currículo. A autora tem cadeira cativa na Academia Jauense de Letras e agora, 14 anos após a sua morte, os conterrâneos vão poder conhecer um pouco mais sobre a sua obra.
“Ela é homenageada no maior festival literário do Brasil, o que é extremamente importante porque ressalta a obra dela, traz à tona a importância que ela teve e é uma justa homenagem. E a gente em Jaú o que puder fazer para levar o nome dela nesse aspecto a gente vai fazer”, explica o diretor do museu municipal Fábio Grossi dos Santos.
Fonte: G1 - Bauru e Marília.